23 setembro 2013

Porque faço isso comigo mesma? (A Alopecia em minha vida).

Eu posso dizer que eu disfarço muito bem o fato de estar com menos da metade do meu cabelo na cabeça.

A maioria das pessoas que me vêem - imagino eu - pensam "nossa, como ela tem estilo... usando chapéu assim...". Mas não, não é uma questão de estilo. É uma questão de falta de escolha.



Eu já pensei em usar peruca. Mas experimentei (inclusive umas bem caras e praticamente perfeitas, no Rio de Janeiro) e me senti falsa. Senti que eu era uma mentira ambulante. Porque o sentimento e a sensação da peruca na cabeça simplesmente não condizem com a imagem refletida no espelho.

Bem, desisti da ideia da peruca. Passei a usar os chapéus. Alguns, ressuscitei de uma velha gaveta empoeirada ("lavou, tá novo"!). Outros, comprei novos.

Agora, passo todo dia pela árdua tarefa de ter que combinar a roupa com o chapéu, e não o contrário. E quem disse que isso é fácil? Até o estilo, eu tento aproximar ao máximo daquele que eu acho que é o meu estilo, para que eu fique pelo menos à vontade com o look.

Mas sabe o que é chato?

A falta de liberdade.

Escolher usar um chapéu é uma coisa. Ser obrigada, todo santo dia a usá-lo, é outra.

E eis que já havia um tempo que eu não frequentava a academia, a última vez em que fui ainda usava o cabelo completamente preso (e com o malabarismo de mantê-lo quieto para não mostrar as falhas), mas decidi que já era hora de voltar, pois a TPM e os músculos (exigidos pelos 3 kgs de câmera no trabalho) já estavam "reclamando". Então arrumei a sacola, e peguei um boné velho que eu tinha em casa. É claro, faz todo o sentido usar um boné para malhar em um local fechado e sem sol, mas tudo bem, combina com o look fitness, né?

O problema foi quando, após eu me vestir inteira no banheiro da academia, eu coloquei o boné, e por via das dúvida, tirei uma foto da parte de trás com o celular. E a visão foi triste: o boné não cobria nada direito. E me deu aquele sentimento meio desesperado de impotência, e a raiva foi tamanha que a vontade era de sair gritando pela academia, sem nada na cabeça: "é, meu cabelo cai mesmo, e estou quase careca. E DAÍ?!?!??!?!".

Enfim. Claro que não fiz isso.

Coloquei a roupa que estava antes, e saí de fininho, de volta para casa. E durante a raiva e depressão que se sucederam, eu me fiz a pergunta que é A PERGUNTA:


PORQUE EU FAÇO ISSO COMIGO MESMA?



Porque a Alopecia é uma doença autoimune. Logo, é o meu próprio organismo que está lutando contra (!!!) meu próprio cabelo.

E após fazer o PTA (Processo Terapêutico de Autoconhecimento), algumas Constelações Familiares, estar há 5 anos participando de terapia em grupo (1x/semana) e estar em tratamento com o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) e ainda o tratamento médico, de comprimidos e cremes (melequentos) que tenho que usar, posso dizer que estou um pouquinho mais perto dessa resposta. 

Ou pelo menos me sinto mais próxima de mim. Mais inteira. Mais verdadeira. 
Sabe sabotagem? Auto-sabotagem? Pois é. Isso aqui é level hardcore

Bem, após odiar todos os bonés do mundo e a academia, e principalmente o fato de eu fazer o meu próprio cabelo cair, eu acordei no dia seguinte, fui a uma loja de fitness, e comprei um boné totalmente fechado atrás (e ainda de elástico, pra não sair).



E agora vou linda (#sóquenão) para a academia, ficar feliz de endorfina!


Kisses,

A.




2 comentários:

  1. Oi, Amanda!

    Primeiro gostaria de dizer que sou apaixonada pelo seu trabalho. Estou começando minha carreira como fotógrafa e as imagens que encontro no Face e no site do Estúdio Cabine sempre me motivam a querer melhorar cada vez mais minhas fotografias. Vocês são uma de minhas inspirações, obrigada por isso.

    Em segundo lugar, entendo o que você passa com a alopecia, pois há 13 anos ela veio sorrateira quando eu ainda nem tinha completado meus 18 anos e acabou com minha auto estima e alegria de viver durante algum tempo. Diferente da sua a minha veio pra ficar, nunca deu nenhum tempinho para descanso.

    Não preciso contar sobre os dias chorando, o medo dos olhares, a briga com o espelho... Acredito que toda mulher que passa por esse problema acaba tendo sentimentos bem parecidos.
    Foram três anos usando chapéus, bonés e faixas de cabelo largas (que não davam conta de esconder as falhas), simplesmente não aguentava mais me olhar no espelho e ver sempre a mesma cara, não poder mudar não poder escolher uma roupa diferente porque meus acessórios tinham virado as peças principais do guarda-roupas.

    Foi aí que tomei coragem e resolvi apelar para uma prótese capilar. Na época cheguei a vender meu computador pra poder pagar por ela... rs. Demorou uns vinte dias pra bichinha ficar pronta e depois de devidamente colocada (entrelaçada em meu próprio cabelo), saí do salão me sentindo ridícula e querendo arrancar aquilo da cabeça, mas ao mesmo tempo adorei me ver com cabelo outra vez. Hoje continuo usando próteses e confesso que adoro, não consigo ficar sem e simplesmente decidi não sofrer mais por causa da alopecia. Claro que em alguns momentos uma coisa ou outra acaba me irritando como, por exemplo, as constantes e demoradas manutenções, porém estou pensando em trocar a prótese por uma full lace wig para facilitar o trabalho todo (fora que elas são perfeitas!).

    Enfim, apesar de ser um problema que abala nossas estruturas, somos mais fortes que a alopecia. Tenho certeza que tudo dará certo pra você. ;)

    Desculpe o comentário gigante! Hauahuahauhauahuahau.

    Beijões.
    Tati.

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  2. Oi Tati,
    Primeiramente, obrigada por me deixar saber que o Estúdio Cabine é uma inspiração para você!!! É um feedback como esse que nos motiva a continuar trabalhando arduamente. :D

    Eu nunca usei prótese, mas já usei aplique. Não gostei muito, pois ele pesou no fio de cabelo e fez ele cair mais rápido. Atualmente não consigo colocar nada preso ao cabelo pois não há muitos fios grandes para prender, e os que estão nascendo ainda estão muito pequenos (e são quase transparentes, uma gracinha! ;).

    Mas é isso mesmo, acho que cada uma de nós encontra uma maneira de superar a Alopecia e ser feliz. Para mim, o mais importante tem sido a terapia, e tentar entender porque eu fiz isso comigo mesma. Acho que é esse o meu caminho...

    Beijos,
    Amanda

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