07 janeiro 2007

Sensações

Entro num espaço construído especialmente para abrigar uma obra de Anish Kapoor, no CCBB em Brasília, maravilhada com o tamanho, a disposição, pensando “nossa, construíram isso tudo para a exposição!” e qual não é a minha surpresa quando descubro que não só construíram só para a exposição como também para apenas uma das obras do artista. Claro, uma obra que exige certa estrutura, mas apenas uma obra. Fantástica, por sinal. Uma simulação de um tornado, furacão, pelo menos foi o que me pareceu. E ao colocar as mãos, sensação de nada, nem uma poeirinha, e o “furacão” se desfaz ou apenas muda de direção. Esta é “Ascension”, obra homônima à exposição.
Em todas as obras que experimento – sim, porque as suas obras são “experimentáveis” e, ao meu ver, foram feitas para isso mesmo – surgem sensações diversas: tontura, espaço infinito, espaço limitado, ilusões, ilusões, ilusões...
Ao experimentar obras como “Sem titulo”, 2005 (180.5 x 180.5 x 35.5 cm), onde um círculo que não se fecha e que se ergue como escultura, pintado de roxo e nuances de azul em seu interior, percebo que me vejo, pois a superfície pintada é extremamente brilhosa e polida, mas não apenas isso, sinto como se saísse do chão, como se o resto se fosse, e meu labirinto fica confuso, provocando a tonteira.
Já em “Íris”, 1998 (200 x 200 cm), a profundidade de 2 metros de aço inoxidável diminui e temos a nítida impressão de que o espaço é bem menor, talvez a metade do real. Além disso, vemo-nos totalmente invertidos: de cabeça para baixo e do lado oposto. Então quem será essa pessoa, assim ao contrario? Será eu mesma? Que parte de mim é assim? Essa íris, esse olho, não apenas nos olha, mas olha para dentro.
As ilusões continuam ao me deparar com “Double Mirror”, 1998 (2 partes, 200 x 200 cm cada). Uma colher gigante, onde posso me olhar, de diversos ângulos, tamanhos, formas, e também escutar o outro, que se posiciona no outro “espelho”. Um festival de física ótica e acústica, mas não só isso, sinto a mesma sensação de quando entro em “Sem titulo”, 2005: tontura, perda de chão. Meus olhos não sabem para onde olhar e ficam “perdidos” em meio a tanto reflexo, tantas formas inusitadas de mim mesma.
A última obra à qual gostaria de me referir chama-se “Sem titulo”, 2004 e consiste em um buraco na parede medindo 50 cm de diâmetro, iluminado de vermelho, onde podemos colocar a cabeça – e apenas a cabeça. Ao colocar a cabeça, sinto como se houvesse um espaço infinito, todo vermelho, onde eu pudesse ficar e relaxar. Em comum com as outras obras, sinto que o resto do meu corpo some e só me resta a cabeça, perdida na vermelhidão daquele espaço.
Como o próprio Kapoor fala a respeito da exposição: "Em meu trabalho, o que é e o que parece ser são aspectos que, em geral, são confundidos. Na "Ascension" ( a exposição), o meu interesse não se restringe à idéia de o imaterial tornar-se objeto, que é o que ocorre com "Ascension" (a obra homônima), onde a fumaça torna-se coluna. Interessa-me como, ao atravessar aquela passagem, surge a idéia de que Moisés seguiu uma coluna de fumaça, uma coluna de luz, em direção ao deserto".
Kapoor nasceu em 1954, em Bombaim, Índia, de mãe judia. Mudou-se para a Inglaterra no início dos anos 70 e estudou no Hornsey College of Art e Chelsea College of Art and Design, em Londres, onde vive e trabalha até hoje. “Ascension” é sua primeira exposição em um país latino-americano. Participou das mais importantes mostras internacionais como a Bienal de Veneza, a Bienal Internacional de São Paulo (1983 e 1996) e da Documenta de Kassel, na Alemanha. Em 2002, Kapoor ocupou o Turbine Hall da Tate Modern, em Londres, templo da arte contemporânea internacional, com sua gigantesca instalação Marsyas, de 250 metros de comprimento.
Como disse Agnalda Farias, arquiteto e crítico de arte: “Kapoor tem uma notável compreensão da luz como elemento definidor do espaço, revelador de sua ductilidade. O uso sistemático da penumbra ou de materiais cujo contato com a luz provoca uma aparente dissolução demonstra seu cálculo em tornar os limites indiscerníveis aos olhos.” Escultor ou arquiteto, Anish Kapoor tem a habilidade de deixar qualquer um com sentimentos de infância, quando se surpreender e acreditar no impossível era um ato contínuo e corriqueiro.

* Artigo escrito por mim mesma, para uma matéria da Unb.

3 comentários:

  1. blé! eu já tinha lido! :P
    mas mesmo assim, li de ovo. e gostei demais!! sabe que gostei mais de pensar no cara do que da propria expo
    !?!! kkkkkkkkk
    então amiga, como vc esta?!?! me dê noticias!! me liga, sei la!! to preocupada com vc... quero que fique tudo bem!! beijos!!

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  2. Vocês estão encarnadas neste Kapoor, hein? Vou ver as obras dele. As fotos, Anjinho, a partir de uma que diz "com uma câmera na mão, pode-se dar razão...", são todas minhas. Esta eu tirei da televisão. De um filme...(!). Beijolinos flutuantes!

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  3. muitas saudades de vc...
    a musica, imagina pra quem é?!?! huahuahuahuahua. ai, minha vida é um ir e vir impressionante, uma repetição de coisas e sentimentos... ble.
    o "encontros e desencontros", eu tb não tinha gostado, mas vi de novo e algumas cenas me impressionaram. achei bonito sabe?!... bom, é isso!! rs
    me liga, sua coisa!! beijos

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